Placa oceânica antiga entre Arábia e Eurásia pode estar se rompendo, diz estudo

06/02/2025

Mundo

Coletaram dados de um fenômeno peculiar na evolução da superfície terrestre: a placa oceânica Neothethys está se partindo.

Fonte: Imagem: GettyImages

De acordo com um estudo publicado na revista científica Solid Earth, pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, coletaram dados de um fenômeno peculiar na evolução da superfície terrestre: a placa oceânica Neothethys está se partindo. A região passa por um processo de ruptura horizontal, com uma fissura que se estende do sudeste da Turquia ao noroeste do Irã.


Essa placa costumava compor o leito oceânico entre os continentes Árabe e Eurasiático, mas está afundando há muito tempo. Os resultados indicam que o rompimento ocorre devido às forças exercidas pelas montanhas Zagros, no Iraque. Inclusive, esse processo não é tão novo, pois já está acontecendo ao longo dos últimos 20 milhões de anos.


Para os pesquisadores, o estudo pode ajudar a compreender como a evolução da superfície terrestre é influenciada por processos internos do planeta. Afinal, ao longo de milhões de anos, a convergência desses continentes resultou na dinâmica observada. Contudo, eles também concluíram que o peso das montanhas Zagros, por si só, não seria suficiente para explicar a profundidade da depressão, que chega a aproximadamente 3 ou 4 quilômetros.


Os cientistas criaram modelos para entender como a superfície ao redor das montanhas Zagros afundou. Ao perceber que o peso das montanhas não explicava a profundidade dessa depressão, eles entenderam que outros fatores internos da Terra também podem ter influenciado esse fenômeno.


Dada a topografia moderada na área noroeste de Zagros, foi surpreendente descobrir que tanto sedimento se acumulou na parte da área que estudamos. Isso significa que a depressão da terra é maior do que poderia ser causada pela carga das Montanhas Zagros, disse o autor principal e pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Geologia Estrutural e Geotérmica da Universidade de Göttingen, Renas Koshnaw, em comunicado oficial.


Além de aprofundar o conhecimento sobre os processos internos da Terra, o estudo investigou as razões por trás do rompimento e do afundamento dessa placa. Na conclusão do artigo, os pesquisadores afirmam que identificaram alguns fatores responsáveis por esse fenômeno e sua dinâmica.


O que é uma placa oceânica?

A superfície terrestre é composta por diversas placas tectônicas, tanto oceânicas quanto continentais. Porém, elas possuem características distintas que influenciam os processos internos do planeta. O movimento dessas placas, por exemplo, foi responsável pela formação das montanhas e pela distribuição dos continentes ao longo do tempo — essa movimentação é causada pela convecção de material quente no manto terrestre.


As placas oceânicas se formam em limites divergentes, onde o magma emerge por meio de regiões dorsais meso-oceânicas e cria uma nova crosta oceânica. Ao atingir a superfície, o magma se resfria e solidifica, resultando em rochas ígneas extrusivas, como o basalto. Esse processo contínuo resulta na formação e expansão das placas oceânicas.


A crosta oceânica é predominantemente composta por basalto, uma rocha ígnea rica em ferro, magnésio e cálcio. Já a crosta continental contém principalmente granito, uma rocha félsica rica em sílica, sódio e potássio. De qualquer forma, vale ressaltar que ambas podem conter outros tipos de rochas.


“Existem dois tipos de crosta: continental e oceânica, que se diferenciam em composição e espessura. A distribuição desses tipos de crosta geralmente corresponde à divisão entre continentes e bacias oceânicas, embora as plataformas continentais, que estão submersas, sejam formadas por crosta continental”, a enciclopédia Britannica descreve.


As placas oceânicas são mais densas que as continentais, e essa diferença faz com que elas se formem no fundo dos oceanos. Além disso, a crosta oceânica é geologicamente mais jovem, com menos de 200 milhões de anos, pois está em constante renovação. Já a crosta continental pode ultrapassar um bilhão de anos, com algumas rochas chegando a mais de quatro bilhões de anos.


A crosta oceânica cobre a maior parte da superfície terrestre, formando o fundo dos oceanos e representando cerca de 70% da área do planeta. Apesar da menor área, a crosta continental tem um volume muito maior devido à sua espessura. Ou seja, ela é muito mais fina, com espessura média de 6 quilômetros, enquanto a crosta continental pode atingir até em média 40 quilômetros.


Placa oceânica se partindo e afundando


No modelo criado pelos cientistas, foram combinados dados sobre tamanho da depressão, a topografia da região e sobre o manto terrestre para simular essa ruptura. O resultado revelou que o peso das montanhas Zagros não é a única causa para a profundidade de até 4 quilômetros dessa fissura.


Segundo a equipe, essa depressão é resultado do peso adicional da placa oceânica, que permanece conectada à placa Arábica. Assim, esse processo está puxando a região para baixo, o que pode explicar os efeitos observados.


Os resultados também indicam que parte da ruptura já ocorreu entre o Iraque e a Turquia, mas deve avançar em direção ao noroeste do Irã. O modelo computacional sugere que a depressão é significativamente mais rasa nessa área, o que pode justificar a quebra da placa nessa região.


“Esta placa está puxando a região para baixo, abrindo espaço para mais acumulação de sedimentos. Em direção à Turquia, a depressão cheia de sedimentos se torna muito mais rasa, sugerindo que a placa se quebrou nesta área, aliviando a força de atração para baixo”, Koshnaw acrescenta.


É importante destacar que o Neotethys era um antigo oceano, em que a formação iniciou há cerca de 250 milhões de anos e atingiu seu auge há aproximadamente 195 milhões de anos. O que os cientistas observam hoje são vestígios da crosta oceânica desse oceano, que ainda influenciam a tectônica da região, especialmente na interação entre as placas Arábica e Eurasiática.


Ao longo de milhões de anos, os oceanos passam por transformações que moldam a superfície do planeta. Esse processo pode levar ao surgimento de novos continentes e até ao desaparecimento de mares inteiros. Quer saber mais? Aproveite para entender como oceanos estão encolhendo para formar um supercontinente. Até a próxima!

Fonte(s): Por Agência Brasil